Me visitam

agosto 18, 2010

JOÃO:
Teresa aqui está, ao alcance de minha mão, de minha conversa. Por que, entretanto, me sinto sem direitos fora daquele mar? Ignorantes dos gestos, das palavras?

RAIMUNDO:
Maria era também uma árvore. Um desses organismos sólidos e práticos, presos à terra com raízes que a exploram e devassam seus segredos. E ao mesmo tempo lançados para o céu, com quem permutam seus gases, seus pássaros, seus movimentos.

JOAQUIM:
O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.



João Cabral de Melo Neto tomava aspirinas o tempo todo porque sofria de uma dor de cabeça crônica e ficou internado em um hospício por seis meses por conta disso, não gostava de muito convívio social mesmo sendo diplomata, profissão esta que escolheu exatamente pela disponibilidade de tempo que lhe conferia, o qual gastava com sua maior paixão a leitura.
Era o poeta da razão, do humano, um dia ele perguntou para Vinícius de Moraes se ele não falava de outra coisa senão do amor, seus filhos dizem nunca o terem ouvido dizer qualquer coisa, como que sentira saudade ou afeto. Era primo de Manuel Bandeira e Gilberto Freyre, sofria de uma doença degenerativa que o fez perder a visão no fim da vida, coisa que julgava ter sido uma piada de Deus, pois vivia para a leitura.
Segundo ele sua poesia era áspera e não fora feita pra ser lida em voz alta não era uma poesia que embalava o leitor, sua poesia colocava uma obstáculo a cada palavra para o leitor, ele escrevia o que era vivo e segundo ele o sangue do homem é mais espesso do que o sonho do homem, a vida era espessa, não havia argumentos para defender só com palavras a vida, antes João Cabral é claro.

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