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março 22, 2014

Ninguém alcança logo de saída a frivolidade. É um privilégio e uma arte; é a busca do superficial por aqueles que, tendo descoberto a impossibilidade de toda certeza, adquiriram nojo dela; é a fuga para longe desses abismos naturalmente sem fundo que não podem levar a parte alguma.
Permanecem, entretanto, as aparências: por que não alçá-las ao nível de um estilo? Isto é o que permite definir toda época inteligente. Chega-se a encontrar mais prestígio na expressão do que na alma que a sustenta, na graça do que na intuição; a própria emoção torna-se polida. O ser entregue a si mesmo, sem nenhum preconceito de elegância, é um monstro; só encontra em si zonas obscuras, onde rondam iminentes, o terror e a negação. Saber, com toda sua vitalidade, que se morre e não poder ocultá-lo, é um ato de barbárie. Toda filosofia sincera renega os títulos da civilização, cuja função consiste em velar nossos segredos e disfarçá-los com efeitos rebuscados. Assim, a frivolidade é o antídoto mais eficaz contra o mal de ser o que se é: graças a ela, iludimos o mundo e dissimulamos a inconveniência de nossas profundidades. Sem seus artifícios, como não envergonhar-se por ter uma alma? Nossas solidões à flor da pele, que inferno para os outros! Mas é sempre para eles, e às vezes para nós mesmos que inventamos nossas aparências…

março 15, 2014

“Acho uma delícia quando você esquece os olhos em cima dos meus, ou quando sua risada se confunde com a minha.”


Você precisa desse sentimento mais do que do objeto dele, você procura estar nessa condição porque não se reconhece longe dela, você conhece a formula, a receita, o caminho, você sabe por onde ir, só não sabe se isso é mesmo real ou mais uma fantasia que alicerça seu castelo nas nuvens.
Você já escolheu a trilha sonora desse episodio, e não crê num deus que não ri, então ai determina-se qual será a moeda de troca desse jogo perigoso, músculos faciais contraídos, dentes expostos, eis a anatomia do amor pra você. Na verdade o jogo vira por muito pouco, como se o ser mitológico pousasse naquele instante e acertasse o alvo, configurando ali essa nova realidade de busca por mais sinais, mais detalhes e alimento pra que isso cresça ate ter vida própria.
O real já se perdeu no meio da estrada, mas quem se importa, quem determina alias o que é real entre todas as abstrações que esse tipo de sentimento despertam em uma pessoa? Você sabe que precisa de um estimulo vital, de um pra que toda manha, agarrar-se à uma imagem do que você gostaria que acontecesse não te torna menos honesto dos os que preferem o cinismo da verdade, saber que não se trata de fato de matéria não deixa de liberar hormônios de satisfação no seu corpo, vida real e fantasia amalgamadas homogeneamente, ninguém nota onde uma começa e a outra acaba.

março 10, 2014

É  que as vezes eu me sinto tão leve, mas tão leve que parece que vou sumir, a angustia da leveza pode ser pior do que a do peso. Ser leve é ser vazio.


“Só é grave aquilo que é necessário, só tem valor aquilo que pesa.”