Me visitam

julho 31, 2011


No solitário, a reclusão, ainda que absoluta e até ao fim da vida, tem muitas vezes por princípio um amor desregrado da multidão e tanto mais forte do que qualquer outro sentimento, que ele, não podendo obter, quando sai, a admiração da porteira, dos transeuntes, do cocheiro ali estacionado, prefere jamais ser visto e renunciar por isso a toda e qualquer actividade que o obrigue a sair para a rua.

julho 29, 2011


Tenho tentado aprender a ser humilde. A engolir os nãos que a vida me enfia pela goela a baixo. A lamber o chão dos palácios. A me sentir desprezado-como-um-cão, e tudo bem, acordar, escovar os dentes, tomar um café e continuar.


Meu Deus,você era um dos meus, você era diferente e te escolhi, veja só você também não soube ser o meu amor, você também não soube ver o que eu dizia por tras do que eu dizia, você também procurou coisas que em mim não são nada importantes, me machucou, dessa vez mais do que das outras, porque era fogo amigo.

julho 28, 2011




Ela diz que é o contrário, que não pode esquecê-lo. Que uma vez que nada se passa entre eles, permanece a memória infernal do que não chega a acontecer.”

julho 26, 2011


E vocês sabem o que é um sonhador, cavalheiros? É um pecado personificado, uma tragédia misteriosa, escura e selvagem, com todos os seus horrores frenéticos, catástrofes, devaneios e fins infelizes... um sonhador é sempre um tipo difícil de pessoa porque ele é enormemente imprevisível: umas vezes muito alegre, às vezes muito triste, às vezes rude, noutras muito compreensivo e enternecedor, num momento um egoísta e noutro capaz dos mais honoráveis sentimentos... não é uma vida assim uma tragédia? Não é isto um pecado, um horror? Não é uma caricatura? E não somos todos mais ou menos sonhadores?

julho 23, 2011


O mundo avança. É verdade, disse eu, avança, mas dando voltas em torno do sol. (...) Os adolescentes da minha geração, alvoraçados pela vida, esqueceram em corpo e alma as ilusões do futuro, até que a realidade lhes ensinou que o futuro não era como o sonhavam, e descobriram a nostalgia. Ali estavam as minhas crónicas dominicais, como uma relíquia arqueológica entre os escombros do passado, e aperceberam-se que não eram só para velhos mas também para jovens que não tivessem medo de envelhecer.

julho 22, 2011


O amor é, por definição, um prémio sem mérito. Se uma mulher me diz: eu amo-te porque tu és inteligente, porque és uma pessoa decente, porque me dás presentes, porque não andas atrás de outras mulheres, porque sabes cozinhar, então eu fico desapontado. É muito mehor ouvir: eu sou louca por ti embora nem sejas inteligente nem uma pessoa decente, embora sejas um mentiroso, um egoísta e um canalha.

julho 20, 2011


- A única fronteira que ainda tens é o mundo dos intangíveis, tudo o resto está demasiado controlado. Aprisionado dentro de demasiadas leis. Por intangíveis ela quer dizer a Internet, os filmes, a música, as histórias, a arte, os boatos, os programas de computador, tudo o que não é real. Realidades virtuais. Coisas imaginadas. A cultura. O irreal é mais poderoso que o real. Porque nada é tão perfeito como tu és capaz de imaginar. Porque são só as ideias intangíveis, conceitos, crenças, fantasias que duram. A pedra esfarela-se. A madeira apodrece. As pessoas, bem, essas morrem. Mas coisas tão frágeis como um pensamento, um sonho, uma lenda, essas continuam para sempre. Se conseguires mudar a maneira como as pessoas pensam, dizia ela. A maneira como elas se vêem a si próprias. A maneira como vêem o mundo. Se fizeres isso, consegues mudar a maneira como as pessoas vivem as suas vidas. E isso é a única coisa duradoura que podes criar.

julho 19, 2011


Caso você ainda não tenha notado, todos os meus livros são sobre uma pessoa solitária procurando alguma maneira de se conectar com outras pessoas. De certa forma, o que é o oposto do sonho americano: ficar tão rico para estar acima da ralé, todas aquelas pessoas na auto-estrada ou, pior, o ônibus.

julho 18, 2011


Tem um conto do Borges, em que ele diz que escrevendo aquela história como ficção ele se livra da loucura de te-la vivido, penso que minha vida precisa ser urgentemente expurgada de minha demência, falo de demência real, do ponto onde me encontro, em que já não sei se caio no mundo da minha fantasia ou continuo nesse entre mundos que estou hoje, tem dias em que sou absorvida pela realidade e ela é exatamente o que me remete a loucura, quando fico muito lúcida me machuco profundamente.
Tento escrever pra poder olhar de fora, isso que atormenta calado exclusivamente a mim, é preciso só um pouco de silencio e aquilo que comanda minha vida toma posse do que sou, minhas dúvidas, frustrações, questionamentos, a realidade me incomoda, quando ando por ai posso viver a fantasia de ter outra vida, quando fico só, comigo mesma as coisas mudam de figura e tenho medo.
Borges tem um encontro consigo mesmo muitos anos mais moço, não define muito bem quem tem mais medo se o menino ou o velho, se encontrar na mesma idade com outro voce também pode ser chocante e isso pode acontecer diariamente, basta deitar minha cabeça no travesseiro, absorto em pensamentos e lucido quanto mais lucida uma pessoa se torna mais perto da loucura ela se encontra.




Quanto mais pesado o fardo, mais próxima da terra está a nossa vida, e mais ela é real e verdadeira. Por outro lado, a ausência total de fardo faz com que o ser humano se torne mais leve do que o ar, com que ele voe, se distancie da terra, do ser terrestre, faz com que ele se torne semi-real, que seus movimentos sejam tão livres quanto insignificantes. Então, o que escolher? O peso ou a leveza?

julho 17, 2011


Um amor físico, fatídico, real, raro e patente. Um amor que nasceu, mas nunca viveu. Um amor que aconteceu, mas não foi ocupado. Daquelas comédias românticas que ninguém tem tempo de rir, pois já começa pelo final. Os amores mais bonitos são aqueles que nunca foram usados.

julho 13, 2011


Era rústico, tornou-se feroz. Completou-se-lhe o deserto. Era isolamento, tornou-se vácuo. Quando há duas criaturas, a vida é possível. Havendo uma só, parece que nem se pode arrastá-la. Renuncia-se a ela. É a primeira forma de desespero. Mais tarde compreende-se que o dever é de uma série de aceites. Contempla-se a morte, contempla-se a vida, consente-se na última. Mas é um consentimento que sangra.

julho 09, 2011


Caí em meu patético período de desligamento. Muitas vezes, diante de seres humanos bons e maus igualmente, meus sentidos simplesmente se desligam, se cansam, eu desisto. Sou educado. Balanço a cabeça. Finjo entender, porque não quero magoar ninguém. Este é o único ponto fraco que tem me levado à maioria das encrencas. Tentando ser bom com os outros, muitas vezes tenho a alma reduzida a uma espécie de pasta espiritual. Deixa pra lá. Meu cérebro se tranca. Eu escuto. Eu respondo. E eles são broncos demais para perceber que não estou mais ali.

Não quero cair naquele velho cliche da achar que são menores intelectualmente do que eu, são apenas diferentes, detesto essa disputa por um conhecimento que não nos leva adiante, acho um saco essa gente cheia de certezas que tem medo de compartilhar, como se tudo que leram fosse-lhes tomado se compartilhassem, mas nem todos são capazes de entendes minhas duvidas. meus medos, minhas certezas, existes um ponto que liga gente igual e que se não for assim tudo se perde.
Canso de gente, tenho medo das pessoas e de mim, tenho medo de não ser como eles ou ser exatamente como eles e ai não gosto mais de mim, tem alguma coisa que liga as pessoas e não se trata e intelecto, de experiência, mas de sentir isso que liga as pessoas como elas sentem o mundo e como é difícil achar alguém que sinta como a gente.

julho 08, 2011


Eu vou sentir tanta saudade dele, meus dias eram especiais quando sabia que o encontraria, vou sentir falta de horas que gastava me arrumando para o ver chegar, sentirei falta de mim com ele por perto, de como me sentia nos dias que estive em sua presença, de como ficava horas estudando cada palavra dita por ele, decifrando qualquer declaração velada, saída direta da minha imaginação, sentirei falta do medo de olhar diretamente dentro dos seus olhos, de como tinha a impressão que desvendaria todos os meus desejos.
Vou sentir saudade do personagem dele que inventei pra mim, da fragilidade vestida de ironia que via a minha frente, das noites antes de dormir pensando em nós, das coisas que eu disse e repeti mentalmente procurando meus erros, dos erros cometidos por ele, do medo que devia sentir sendo olhado daquela forma por mim, de como fez sentido por algum tempo.



"Devo começar dizendo que te adoro ? Ou que os dias que passei com você foram muito felizes ? Ou que, no curto espaço de tempo que nos conhecemos, passei a acreditar que fomos feitos um para o outro ? Poderia dizer todas essas coisas e tudo seria verdade, mas, enquanto releio estas palavras, a única coisa que passa pela minha cabeça é que queria estar com você agora, segurando sua mão e olhando seu sorriso."

julho 07, 2011


Não podem acreditar que não posso ajudá-los que não conheço as palavras. não podem acreditar que agora mesmo me dobro em meu quarto segurando minhas entranhas e dizendo. "Jesus Jesus Jesus, de novo não!" eles não podem acreditar que as pessoas mal-amadas as ruas a solidão as paredes também são minhas e quando desligo o telefone eles acham que escondi o jogo. Não escrevo a partir da sabedoria. quando o telefone toca eu também gostaria de ouvir palavras que pudessem aliviar um pouco alguma dessas coisas. é por isso que meu nome está na lista.


Como se viver fosse realmente algo fácil e dispensável, não percebemos que não há manual e a vida se complicada de uma forma, que frequentemente perdemos pra ela, há sete bilhões de seres muito parecidos conosco no mundo, nenhum tem a formula para a tranquilidade, sabe o que nos mata, é saber que vamos morrer.


Como entender esses que se vão cedo demais, depois de uma vida que todos buscam, depois de passarem de mortais a deuses, perdem as estribeiras e não tendo sido informados de que no processo de endeusamento não lhes caberia a imortalidade presencial, desmoronam ainda crianças, para nos provar que somos todos frágeis.


Quem vai me explicar o que leva uma pessoa comum a matar uma centena de desconhecidos, por crer em algo ou por ter perdido completamente a fé, a que ponto chegamos, de onde a gente veio, o que somos afinal? Sem ter essa resposta seguimos nos convencendo de que haverá um sentido, capazes de coisas lindas e monstruosas somos o verdadeiro enigma, somos nosso próprio enigma e não sabemos lidar com isso, querendo uma resposta e caímos no grande paradoxo que é viver.


Por enquanto ficarei aqui bem sentada me perguntando por que seguir em frente diante dessa complexidade toda que percebo, por enquanto não aceito sugestão alguma de como viver a minha vida, porque certamente ninguém saberia como voltar a coloca-la no trilho, se é que ha realmente esse caminho que deve ser percorrido, não somos especiais, não somos mais que do aparentamos ser, somos crianças perdidas e completamente inocentes do pecado de viver.










julho 06, 2011


"Surdo a qualquer zen-budismo o coração doía sintonizado com o espinho. Melodrama: nem amor, nem trabalho, nem família, quem sabe nem moradia — coração achando feio o não-ter. Abandono de fera ferida, bolero radical. Última das criaturas, surto de lucidez impiedosa da Big Loira de Dorothy Parker. Disfarçado, comecei a chorar. Troquei os óculos de lentes claras pelos negros ray-ban — filme. Resplandecente de infelicidade, eu subia a Rua Augusta no fim de tarde do dia tão idiota que parecia não acabar nunca. Ah! como eu precisava tanto que alguém me salvasse do pecado de querer abrir o gás."

julho 05, 2011


"Quando tudo começa a ficar igual todos os dias, você sem perceber começa a se movimentar como quem liga o automático"

julho 04, 2011

"Amor é a gente querendo achar o que é da gente."


Alguém disposto a ouvir tuas reclamações mais sinceras e que não tentasse apenas amenizar tua dor com palavras gentis ditas nessas horas escuras, alguém que depois do que você disse pare e olhe pra cima afim de entender realmente os questionamentos que tens em comum ou se não forem comuns que pergunte-se de onde tiras essas coisas, quando pra ele a resposta é clara. Alguém que queira não pensar em nada ao teu lado e ache valido tardes de chuva perdidas em uma cama contando travessuras antigas, desejos secretos, descrevendo pessoas e situações, imaginando futuros.
Alguém que caiba nos teus poemas baratos, que seja a exata tradução de uma musica de amor, alguém que entenda mais do que matemática e português, que procure o mesmo sentido, que sinta o mesmo vazio, que diga as verdades escondidas por todos os outros, que esteja sem motivo, e que este seja o maior motivo de todos para continuar a teu lado, que seja o inesperado encontro por qual sempre procurou, que realmente se importe.

julho 03, 2011


Nós não sonhamos.
Eras
Real e eu era real.
Tuas mãos — tão sinceras…

Meu gesto — tão leal…

Tu e eu lado a lado…

Isto… e isto acabado (…)

julho 01, 2011


As circunstâncias decidiram que foram de outra maneira: não tornei a vê-la. Não foi ela a quem amei, mais poderia ter sido. E uma das coisas que me tornaram mais cruel o grande amor que em breve eu ia ter, foi, ao lembrar aquela noite, dizer comigo que, se circunstâncias muito simples se houvessem modificado, poderia esse amor dirigir-se a outrem.






E como, eu, poderia controlar tal coisa?
Esse amor que nasce em algum lugar aqui dentro que ainda desconheço, sim aqui dentro, porque sou eu quem abre as portas do grande amor, são meus olhos que enxergam, de outra forma aquele que com toda a certeza, é muito parecido com todos os outros. É em mim que nasce, sou eu que tenho o exato receptor que capta essa onda mesmo que não seja reciproca.

Como posso deixar de amar a outros que enxergam em mim muito mais do que qualquer outro já viu, quem dispensa tempo e atenção, de forma tão delicada a alguém, que não sabe nem medir palavras, que busca longe em qualquer lugar alguma rendição a vida, quando poderia apenas aceitar o amor que se oferece, a vida não é matemática . o que é uma pena.