Me visitam

novembro 17, 2014

Não é diferente de nenhum dos outros momentos críticos pelos quais ja passei, mas agora não ha sequer esperança de um dia ser melhor.
Eu cheguei ao destino, aquele que fez que todos fossem deixados para trás, não há nada aqui, mas ainda há muitos esqueletos nos armários que não sei como vou me livrar.
Não me arrependo de quase nada, quem sabe uma estrada diferente, um pouco mais de pressa, e talvez ter voltado atrás em certos caminhos, no mais era isso ou nunca saber o que me esperava do outro lado.
A sensação habitual de solidão e vazio agora é certa, é uma especie de premio, a coisa mais real entre todas a ilusões perdidas, o vazio é denso e material, acredito que a física esqueceu de defino-lo, é material, eu sei, quem me ve andar na rua percebe logo que pesa.
Os hormônios voltaram a criar, bom sinal, ainda tem algo a ser dito, mesmo que não haja mais pra quem dizer, esse ascetismo nega todo o desejo, limpa, esteriliza até sangrar, me agarro a altruísmos baratos para ser salva, não há quem queria o meu bem.

outubro 31, 2014


Preso à minha classe e a algumas roupas,Vou de branco pela rua cinzenta.

Melancolias, mercadorias espreitam-me.

Devo seguir até o enjôo? Posso, sem armas, revoltar-me'? 

Olhos sujos no relógio da torre:

Não, o tempo não chegou de completa justiça.

O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.

O tempo pobre, o poeta pobrefundem-se no mesmo impasse. 

Em vão me tento explicar, os muros são surdos.

Sob a pele das palavras há cifras e códigos.

O sol consola os doentes e não os renova.As coisas.

Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase. 

Vomitar esse tédio sobre a cidade.

Quarenta anos e nenhum problema resolvido, sequer colocado.

Nenhuma carta escrita nem recebida.

Todos os homens voltam para casa.

Estão menos livres mas levam jornais e soletram o mundo, sabendo que o perdem. 

Crimes da terra, como perdoá-los?

Tomei parte em muitos, outros escondi.

Alguns achei belos, foram publicados.

Crimes suaves, que ajudam a viver.

Ração diária de erro, distribuída em casa.

Os ferozes padeiros do mal.Os ferozes leiteiros do mal. 

Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.

Ao menino de 1918 chamavam anarquista.

Porém meu ódio é o melhor de mim.

Com ele me salvo e dou a poucos uma esperança mínima. 

Uma flor nasceu na rua!

Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.

Uma flor ainda desbotada

ilude a polícia, rompe o asfalto.

Façam completo silêncio, paralisem os negócios,

garanto que uma flor nasceu. 

Sua cor não se percebe.

Suas pétalas não se abrem.

Seu nome não está nos livros.

É feia. Mas é realmente uma flor. 

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde

e lentamente passo a mão nessa forma insegura.

Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.

Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.

É feia.

Mas é uma flor.

Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

setembro 17, 2014

P.: “O amor é sempre recíproco”, dizia Lacan. Isso ainda é verdade no contexto atual? O que significa?
J-A Miller: Repete-se esta frase sem compreendê-la ou compreendendo-a mal. Ela não quer dizer que é suficiente amar alguém para que ele vos ame. Isso seria absurdo. Quer dizer: “Se eu te amo é que tu és amável. Sou eu que amo, mas tu, tu também estás envolvido, porque há em ti alguma coisa que me faz te amar. É recíproco porque existe um vai-e-vem: o amor que tenho por ti é efeito do retorno da causa do amor que tu és para mim. Portanto, tu não estás aí à toa. Meu amor por ti não é só assunto meu, mas teu também. Meu amor diz alguma coisa de ti que talvez tu mesmo não conheças”. Isso não assegura, de forma alguma, que ao amor de um responderá o amor do outro: isso, quando isso se produz, é sempre da ordem do milagre, não é calculável por antecipação.

agosto 25, 2014

Você cresceu, sim, agora não dá mais tempo de ver o que passou enquanto você se debatia pra entender o que se passava, você cresceu e isso não diz nada  na verdade. Você paga suas contas, bebe com os amigos, paga muito mal alguém pra ouvir suas confissões no melhor estilo idade média, hoje é Chic, você está só.
Você cresceu e é assustador o quanto isso já era evidente a muito tempo e só você não via, você fez coisas que esperavam que pessoas crescidas fizessem, resolveu problemas, aguentou firme quando alguém precisou que você fosse apoio, você seguiu em frente linearmente, como você acredita que deve ser.
Você acha que as coisas poderiam ate ser diferentes, mas claro teoricamente, porque na pratica tudo tem que ser exatamente como é, ta tudo certo e se mudar uma virgula você perde  o compasso. Você parecia revolucionaria quando menor, você cresceu e "endireitou", que pena.
Você cresceu demais para caber nos seus sonhos, você leu algumas coisas que acabaram com suas certezas, você pensou que ia aprender alguma coisa, mas agora você só se dá conta do abismo que é sua ignorância, você é triste, mas tenta em vão disfarçar esse fato, o que torna tudo mais evidente ainda.
Você cresceu, foi embora da velha casa que te abrigou, você não sabia que depois daquela partida nunca mais seria a mesma pessoa que voltaria, você não pode mais voltar, as paredes foram derrubadas, junto com as suas lembranças e a intimidade que você compartilhou atras daquelas portas com os estranhos de agora.
Você cresceu, que mal pra quem não teve a oportunidade de te conhecer quando ainda era pequena, quando o mundo era sua rua, quando dava pra enxergar vida no que você fazia. Mal para aqueles que não puderam acompanhar seu crescimento, barrar o endurecimento da sua alma, dividir contigo as dores que te esticaram. Você cresceu a ai de cima não dá ver que você tem pisado nos seu grandes feitos só porque eles se tornaram menores do que seus passos, menores do que seus pés, menores aos seus olhos.
Você cresceu ainda que a terra tenha sido árida, mesmo ser regar o suficiente, mesmo que entre pedras, você cresceu, sobreviveu, mas você sabe que é preciso mais do que sobreviver pra ter vivido, mais do que crescer para ser grande, mais que respirar para ser gente, você cresceu e ainda não sabe o que importa na verdade, se é mesmo é quantidade ou conteúdo.

agosto 07, 2014

Difícil admitir que a vida vai afunilando as coisas e o que parecia importante vai ficando de lado, pra trás, e não há mais espaço para o que não tem um certo sentido, é difícil admitir que as pessoas são as primeiras coisas que relegamos quando precisamos saber quem somos, selecionar amigos nem sempre é um ato tão ético como gostaríamos, mas quando precisamos usar a razão pra escolher quem nos acompanhará isso quer dizer que o coração não tem mais espaço para alguns.
Eu me sinto muitíssimo sozinha, mas acho que é um ato desleal manter por perto quem não está mais em sintonia comigo, talvez eu mesmo esteja em outra estação e por isso essa falta de contato com os que me rodeiam, talvez eu tenha mudado e eles não, talvez eles estejam em outra e não na minha.
O pior é pensar que não tem dor em certas decisões que antes pareciam impossíveis, que não há peso em escolher ficar só, o pior é achar que isso é um sintoma de uma conduta muito típica da minha época, esse individualismo louco que nos levará a extinção.
Mas não posso admitir viver ser amor, sem cumplicidade, sem que tenha alguém que torce e acredita que minha vitória vai gerar benefícios e eles também, quero mobilizar os que estão por perto, quero que suas vidas sejam tocadas pela minha, que cresçamos juntos, não essa competição desenfreada de uma corrida que todo mundo perde no final, não quero gente que não ama gente do meu lado.


A liberdade é a possibilidade do isolamento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo.

julho 17, 2014

Daqueles dias em que tudo que você quer mesmo é ser um móvel no canto da sala, esquecido com uma planta em cima, já seca de água que não lhe oferecem, já seca do sol diário que pega, ja seca de olhos que nunca viram em direção a ela.
Daqueles dias em que  o mofo esta subindo pela sua cabeça, aquele mofo enlouquecedor que dopa todos os seus sentidos, que te permite perder a razão, um mofo alucinógeno. Dias que você não gosta de voltar pra casa do trabalho, aquele trabalho repetitivo no qual o mantra sagrado que te faz levantar de sua cama pela manha é o salario no final de mês, o salario que te faz comprar coisas que você acha que precisa, comer coisas que você acha que são gostosas, ir a lugares que tem pessoas que você acha que são felizes.
Dias cinzas  que poderiam ser românticos não fosse o real impregnado nas sua vida, não fosse  a falta de fé que você tem no amor, não fosse o abismo que você crer ter essa cor.
Daqueles dias que vida te cobra algo que foi vendido pela propaganda televisiva que te ensinou que o que era vida de verdade.Num dia daqueles, de cão, de gato, de gente pasma, paralisada diante abismo convidativo.
Volte pra cama, não enfrente esses dias, Volte pra cama e durma como se não fosse preciso acordar.




maio 19, 2014

Teu endereço mudou.

Voltar a escrever não é uma tarefa fácil, se é que algum dia o fiz de verdade, o problema maior é o encontro que é necessário para que haja escrita, pensamento, catarse, voltar a escrever é admitir que se está afundando, recorrer ao ultimo recurso que me sobra, ver de fora o que acontece por dentro, desconstruir essa realidade virtual de dor.Um ato esquizofrênico de amor ao vazio, que se perde na verdade de possíveis  amores que aqui vagueiam, uma tentativa de que alguém me encontre quando me acho perdida, uma vaidade.
Voltar a escrever e saber que você já não sabe tudo, que o encontro contigo é insuficiente ou assusta, não quero, não posso, não devo. Por que?
Porque você não existe, não é senão uma representação de cura, quando não há doença, a  ação do verbo, onde não é mais necessário o uso de palavras, se te toco viras ouro, essa  relação não existe no real, no imaginário ela não é permitida, a sua virtualidade a desloca do presente, confere a ela um não pertencimento, uma desterritorialização que esvazia seu significado.
Voltar a escrever é te tirar da posição de ouvinte, é uma tentativa torpe e enviesada de te materializar, é dizer que tua falha salva meu desejo, mas você não falha. Voltar a escrever é me tirar de você e me entregar inteiramente a mim, é domar a situação que criei para alimentar a ilusão de que ainda há algum controle, no meu destempero você abre caminho para o saber de quem sou, na tua insistência só consigo ouvir não.



“Para Lacan, quer o sujeito desejante se aproxime de seu objeto de desejo ou fuja dele, esse objeto parece permanecer à mesma distância dele. Quem não se lembra da situação pesadelar em sonhos: quanto mais corro, mais fico plantado no mesmo lugar?

maio 08, 2014

Querido amigo, Se não tenho falado com quase ninguém, isto não é um “silêncio arrogante” mas, ao contrário, um silêncio bastante humilde, de um sofredor envergonhado em revelar o quanto sofre. Um animal rasteja para seu esconderijo quando está doente, e assim também faz la bête philosophe. Quão raramente uma voz amiga chega até mim! Estou agora só, absurdamente só. E no curso de minha guerra subversiva contra todo o homem que até agora tem sido respeitado e amado, eu mesmo me tornei sem perceber uma espécie de esconderijo, algo oculto, que você não poderá mais achar mesmo se for até lá procurá-lo, mas é claro que ninguém o faz. Confidencio que não é impossível que eu seja o principal filósofo desta era, e mesmo um pouco mais que isso, algo decisivo e fatal permanecendo entre dois milênios. Alguém nesta singular posição é constantemente obrigado a pagar com uma crescente, ainda mais glacial e aguda solidão. Nossos amados alemães! Não obstante eu esteja agora em meu quadragésimo quinto ano e tenha publicado cerca de quinze livros, eles não apresentaram nem ao menos uma crítica minimamente decente de meus livros. Recorrem agora a expressões como “excêntrico”, “patológico”, “mentalmente perturbado”. E por anos nenhuma palavra de conforto, nem um pingo de sentimento humano, nem um alento de amor.

abril 13, 2014

As cartas que declamei

Eu poderia te escrever, alimentar isso da melhor forma possível, tenho os instrumentos pra te recriar, eu poderia querer isso, mas não dá mais, ha alguma coisa aqui que está diferente, que quer mais do que eu posso criar, mais do que eu posso ver, mais do que eu posso ouvir, algo aqui quer toque, eu ainda não sei o porquê, mas algo aqui não acredita em nós, no entanto, não há nada pra se querer além de nós.
 Se você quebra a sequência, eu caio no mundo real, se você segue, eu não vivo, não há forma pra mim  em lugar algum, contigo sou outra, fora de ti, nada.

março 22, 2014

Ninguém alcança logo de saída a frivolidade. É um privilégio e uma arte; é a busca do superficial por aqueles que, tendo descoberto a impossibilidade de toda certeza, adquiriram nojo dela; é a fuga para longe desses abismos naturalmente sem fundo que não podem levar a parte alguma.
Permanecem, entretanto, as aparências: por que não alçá-las ao nível de um estilo? Isto é o que permite definir toda época inteligente. Chega-se a encontrar mais prestígio na expressão do que na alma que a sustenta, na graça do que na intuição; a própria emoção torna-se polida. O ser entregue a si mesmo, sem nenhum preconceito de elegância, é um monstro; só encontra em si zonas obscuras, onde rondam iminentes, o terror e a negação. Saber, com toda sua vitalidade, que se morre e não poder ocultá-lo, é um ato de barbárie. Toda filosofia sincera renega os títulos da civilização, cuja função consiste em velar nossos segredos e disfarçá-los com efeitos rebuscados. Assim, a frivolidade é o antídoto mais eficaz contra o mal de ser o que se é: graças a ela, iludimos o mundo e dissimulamos a inconveniência de nossas profundidades. Sem seus artifícios, como não envergonhar-se por ter uma alma? Nossas solidões à flor da pele, que inferno para os outros! Mas é sempre para eles, e às vezes para nós mesmos que inventamos nossas aparências…

março 15, 2014

“Acho uma delícia quando você esquece os olhos em cima dos meus, ou quando sua risada se confunde com a minha.”


Você precisa desse sentimento mais do que do objeto dele, você procura estar nessa condição porque não se reconhece longe dela, você conhece a formula, a receita, o caminho, você sabe por onde ir, só não sabe se isso é mesmo real ou mais uma fantasia que alicerça seu castelo nas nuvens.
Você já escolheu a trilha sonora desse episodio, e não crê num deus que não ri, então ai determina-se qual será a moeda de troca desse jogo perigoso, músculos faciais contraídos, dentes expostos, eis a anatomia do amor pra você. Na verdade o jogo vira por muito pouco, como se o ser mitológico pousasse naquele instante e acertasse o alvo, configurando ali essa nova realidade de busca por mais sinais, mais detalhes e alimento pra que isso cresça ate ter vida própria.
O real já se perdeu no meio da estrada, mas quem se importa, quem determina alias o que é real entre todas as abstrações que esse tipo de sentimento despertam em uma pessoa? Você sabe que precisa de um estimulo vital, de um pra que toda manha, agarrar-se à uma imagem do que você gostaria que acontecesse não te torna menos honesto dos os que preferem o cinismo da verdade, saber que não se trata de fato de matéria não deixa de liberar hormônios de satisfação no seu corpo, vida real e fantasia amalgamadas homogeneamente, ninguém nota onde uma começa e a outra acaba.

março 10, 2014

É  que as vezes eu me sinto tão leve, mas tão leve que parece que vou sumir, a angustia da leveza pode ser pior do que a do peso. Ser leve é ser vazio.


“Só é grave aquilo que é necessário, só tem valor aquilo que pesa.”

janeiro 20, 2014


"Quem quer que haja construído um novo céu, só no seu próprio
inferno encontrou energia para fazê-lo!"


Um corpo caminha pela cidade, ninguém desconfia do seu abismo, um transeunte qualquer para no sinal, segue em frente quando pode, ninguém se pergunta sobre seu peso subjetivo, a passos largos acredita que chegará mais rápido ao seu destino, quando caminha deseja deixar pra trás seu mundo cinza.
Não trata apenas de fatos, as interpretações são fundamentais, nada do que acontece é exatamente o que todo mundo vê, a realidade pesa, ilumina a verdade desesperadora, você é só, não há mais nada o que se possa fazer.
As verdades absolutas precisam urgentemente ser tamponadas com ilusão pra valer um dia a mais, quando você sente  que o corpo não pode mais resistir, quando olha no espelho e vê seu inimigo maior, quando se depara consigo mesma tentando segurar a onda, nesse instante dispara um alarme que te informa do que mesmo você é feito, frágeis ossos de vidro, um vento tudo se foi.
Um dia  a dor bate sua porta, você nunca imaginou que suportaria chegar tão longe, o pior momento entre vocês é a pergunta mais pratica que poderia existir, que tipo de tesouro existe depois desse arco-iris de desolação? O que te faz mesmo dilacerado continuar? O que há na vida que pra seguir mesmo sabendo de sua condição humana fraca? 
Essa relação com uma realidade dura de solidão e desamparo, pode ser seu xeque-mate na vida, ela te sobrepuja, te humilha, troça de sua fragilidade e arrogância pueril, mas quando você olha direto nos seus olhos e adivinha todo dor que é capaz de sentir sem cair, a luta passa a ser justa, porém agora você é só mais um soldado.
 Quando caminhares na rua ninguém desconfiará de seu abismo interior,  dirão da  capa que cobre sua alma que está é você, traçarão metas para uma vida que você já venceu, você encontrará um novo jeito de ver as coisas, mas aquilo que está morto dentro de você irá feder irremediavelmente, a queda livre permanente em que vives causará náuseas sem fim, terá forças opostas te puxando para todos os lados enquanto sorris, é DOR o nome da vida.