Me visitam

outubro 31, 2012

Tu ao contrário, evitaste encontrar-me e instruir-me, não o quiseste; e me conduzes aqui, onde a lei ordena citar aqueles que tem necessidade de pena e não de instrução.

outubro 26, 2012

A noite
desceu. Que noite!
Já não enxergo meus irmãos.
E nem tão pouco os rumores que outrora me perturbavam.


A noite desceu. Nas casas, nas ruas onde se combate,
nos campos desfalecidos, a noite espalhou o medo e a total incompreensão.
A noite caiu. Tremenda, sem esperança...
Os suspiros acusam a presença negra que paralisa os guerreiros.


E o amor não abre caminho na noite.
A noite é mortal, completa, sem reticências,
a noite dissolve os homens, diz que é inútil sofrer,
a noite dissolve as pátrias, apagou os almirantes cintilantes!
nas suas fardas.


A noite anoiteceu tudo... O mundo não tem remédio...
Os suicidas tinham razão.


Aurora, entretanto eu te diviso,
ainda tímida, inexperiente das luzes que vais ascender
e dos bens que repartirás com todos os homens.


Sob o úmido véu de raivas, queixas e humilhações,
adivinho-te que sobes,
vapor róseo, expulsando a treva noturna.


O triste mundo fascista se decompõe ao contato de teus dedos,
teus dedos frios, que ainda se não modelaram mas que avançam
na escuridão
como um sinal verde e peremptório.


Minha fadiga encontrará em ti o seu termo,
minha carne estremece na certeza de tua vinda.


O suor é um óleo suave, as mãos dos sobreviventes
se enlaçam,
os corpos hirtos adquirem uma fluidez, uma inocência, um perdão
simples e macio...


Havemos de amanhecer.
O mundo se tinge com as tintas da antemanhã
e o sangue que escorre é doce, de tão necessário
para colorir tuas pálidas faces, aurora.

outubro 25, 2012

Com franqueza, não me animo a dizer que você não vá.
Eu, que sempre andei no rumo de minhas venetas, e tantas vezes troquei o sossego de uma casa pelo assanhamento triste dos ventos da vagabundagem, eu não direi que fique.
Em minhas andanças, eu quase nunca soube se estava fugindo de alguma coisa ou caçando outra. Você talvez esteja fugindo de si mesma, e a si mesma caçando; nesta brincadeira boba passamos todos, os inquietos, a maior parte da vida — e às vezes reparamos que é ela que se vai, está sempre indo, e nós (às vezes) estamos apenas quietos, vazios, parados, ficando. Assim estou eu. E não é sem melancolia que me preparo para ver você sumir na curva do rio — você que não chegou a entrar na minha vida, que não pisou na minha barranca, mas, por um instante, deu um movimento mais alegre à corrente, mais brilho às espumas e mais doçura ao murmúrio das águas. Foi um belo momento, que resultou triste, mas passou.

outubro 24, 2012

Não há nada a lamentar sobre a morte, assim como não há nada a lamentar sobre o crescimento de uma flor. O que é terrível não é a morte, mas as vidas que as pessoas levam ou não levam até a sua morte. Não reverenciam suas próprias vidas, mijam em suas vidas. As pessoas as cagam. Idiotas fodidos. Concentram-se demais em foder, cinema, dinheiro, família, foder. Suas mentes estão cheias de algodão. Engolem Deus sem pensar, engolem o país sem pensar. Esquecem logo como pensar, deixam que os outros pensem por elas. Seus cérebros estão entupidos de algodão. São feios, falam feio, caminham feio. Toque para elas a maior música de todos os tempos e elas não conseguem ouví-la. A maioria das mortes das pessoas é uma empulhação. Não sobra nada para morrer.

outubro 22, 2012



Primeira segunda feira de horário de verão, primeira tempestade de verão, primeiro bode de verão, não por ser segunda, não por ter chovido, mas por não suportar que alterem minha rotina, nem que seja em uma hora por dia, nem que seja uma coisa possível de prever visto que nasci quando já estava em vigência o horário de verão, não que altere qualquer coisa real na minha vida, meu problema e com as mudanças, elas me assustam mais do que qualquer coisa, enfrentar um dia com a posição do sol diferente do que meu relógio diz desestabiliza tudo a minha volta, me deixa profundamente irritada, sonolenta e desestimulada.
Eu não gosto do verão e não tenho a menor vontade de viver a vida adoidado quando ele chega, eu tenho preferencias  e já tenho idade  pra saber o que realmente vale a pena pra mim, o que eu ainda não aprendi e não reclamar do que não pode ser mudado, eu reclamo do calor como se houvesse um código que proibisse são pedro (ou sei lá eu quem cuida dessas coisas de clima) como se houvesse uma lei  que o estabelece um controle de qualidade de vida, isto e tão banal, mas é a unica coisa que me fez ver que estou viva hoje, porque ando tão apática que qualquer alteração de humor me faz perceber que ainda posso questionar alguma coisa de errado que vem acontecendo, não isso obviamente porque não conheço o tribunal do clima ainda, mas nem sei mais se sinto alguma coisa, de qualquer forma é a chuva, o calor, as pessoas na rua, a a realidade nada romântica, a vida, a vida, ela mexeu comigo hoje.


Se o cotidiano lhe parece pobre, não o acuse: acuse-se a si próprio de não ser muito poeta para extrair as suas riquezas.

outubro 09, 2012

Há no coração dos mais levianos, fibras que não podem ser tocadas sem emoção. Mesmo para os mais pervertidos, para quem a vida e a morte são idênticos brinquedos, há assuntos com os quais não se pode brincar.

outubro 04, 2012

O inferno está lotado ainda, você sempre pensa que você está sozinho. E você nunca pode dizer a ninguém que você está no inferno ou eles vão pensar que você está louco. Mas ser louco é estar no inferno e ser sensato também. Aqueles que escapam do inferno nunca falam sobre isso e nada mais os incomoda depois disso. Quero dizer, coisas como falta de uma refeição, ir para a cadeia, bater seu carro ou mesmo morrer. Quando você perguntar-lhes, ‘como as coisas estão indo?’ eles vão responder: ‘bem, muito bem …’ Uma vez que você foi para o inferno e voltou é o bastante, é a mais silenciosa celebração conhecida. Uma vez que você foi para o inferno e voltou, você não olha para trás quando o chão range. O sol está no alto à meia-noite. E coisas como os olhos de ratos ou um velho pneu em um terreno baldio pode torná-lo feliz. Uma vez que você foi para o inferno e voltou.

outubro 03, 2012

Uma pessoa que, durante toda a sua vida, está acostumada a viver numa certa cidade e é finalmente obrigada a se mudar para outro lugar, sente-se, é claro, entristecida pela perspectiva de ser lançada num ambiente novo – mas o que a deixa triste? Não é a perspectiva de deixar o lugar que durante anos foi o seu lar, mas o medo muito mais sutil de perder sua afeição por esse lugar. O que me deixa triste é a crescente consciência de que, cedo ou tarde – mais cedo do que estou disposto a admitir –, vou me integrar numa nova comunidade, esquecendo o lugar que agora tanto significa para mim e sendo esquecido por ele. Em suma, o que me deixa triste é a consciência de que perderei meu desejo pelo (que agora é) meu lar.

outubro 01, 2012

Outubro já,  chove e faz 21°C, prestes a acontecer alguma coisa, uma mudança radical, uma finalização importante, um adeus, o amor acabou, voltei a enxergar com mais precisão, não sinto dor, sinto-me anestesiada e um pouco iludida, o amor acabou, parece que nunca existiu, nem do tempo que passou eu sinto falta.
Não tenho nem vontande de escrever o que consigo ver em voce agora, a falta de sensibilidade, a falta de tato, o desespero por se afirmar melhor do que realmente é, a crueldade com que tratou esse meu sentimento por todos esses anos, a imaturidade pra assumir que te assustava ser amado por alguém, a falta de curiosidade, todos os defeitos que sempre conheci, mas que não chegava a afetar o que eu sentia, agora não suporto mais a ideia de ter sequer olhado pra voce, e sempre a mesma pergunta, por que?
Tanto faz, que diabos foi essa ideia de ter voce como objeto de desejo por tanto tempo, que levou minha personalidade racional criar um homem ideal em alguem tão vuneravel a vida, que foi essa necessidade  por um amor distante, indiferente e emocionalmente incapaz? Onde é que estava querendo chegar com isso, autodestruição amorosa, só pode.


- Tantos gestos, palavras, silêncios -
Até que um dia sentimos,
Com uma pancada de espanto (ou de remorso?),
Que o nome querido já nos soa como os outros.