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julho 31, 2012


O que é pior nesta vida é que a gente fica pensando como que no dia seguinte vai encontrar força suficiente para continuar a fazer o que fizemos na véspera e já há tanto tempo, onde é que encontraremos força para essas providências imbecis, esses mil projetos que não levam a nada, essas tentativas para sair da opressiva necessidade, tentativas que sempre abortam, e todas elas para que a gente se convença uma vez mais que o destino é invencível, que é preciso cair bem embaixo da muralha, toda noite, com a angústia desse dia seguinte, sempre mais precário, mais sórdido. É a idade também que está chegando talvez, a traidora, e nos ameaça com o pior. Já não temos muita música dentro de nós para fazer a vida dançar, é isso. Toda a juventude já foi morrer no fim do mundo e no silêncio de verdade. E aonde ir lá fora, pergunto a vocês, quando não temos mais em nós a soma suficiente de delírio? A verdade é uma agonia que não acaba. A verdade deste mundo é a morte. É preciso escolher, morrer ou mentir.
E eu, meu bem, nunca pude matar.

julho 23, 2012


Precisamos de livros que nos afetem como um desastre, que nos angustiem profundamente, como a morte de alguém que amamos mais do que a nós mesmos, como ser banidos para florestas distantes de todos, como um suicídio. Um livro tem que ser o machado para o mar congelado dentro de nós.

julho 11, 2012



  
“(...) como é triste lembrar do bonito que algo ou alguém foram quando esse bonito começa a se deteriorar irremediavelmente.”



Quando percebi que havia um lugar para suas roupas no meu armário, me dei conta de que aquilo era muito mais do que esperávamos que fosse, uma gaveta para meias e, um tipo especial de comida na geladeira deixam qualquer um se sentindo em casa. Minha primeira pergunta foi se finalmente ele achava que aquela era agora sua casa, me respondeu com aquele ar sempre desconfiado de quem não quer marcar território, sempre pronto a te abandonar,  que a casa dele seria sempre onde eu estivesse, que na verdade eu era a sua casa, só se acomodava em mim, só podia andar  nu em mim, entendi de que nudez falava, era a nudez da alma que eu nunca havia experimentado de verdade com alguém.
Ele nunca disse que me amava, naqueles cinco anos juntos nunca uma palavra fez referencia a qualquer tipo de relacionamento que pudéssemos estar tendo, era uma amizade sincera, as vezes doía com tanta sinceridade que existia naquilo, nunca fez  sequer uma declaração, nem flores no dia do aniversário, não sabia quando fazia anos de nosso encontro, mas eu soube com simples gesto de deixar seus sapatos e livros que não podia ser nada menos que o amor, sem todas as correntes que envolvem esse sentimento, sem qualquer cobrança que ele acarreta, sem qualquer medo que ele produz, era amor, genuinamente amor, estava em casa nele, eu sabia.

julho 09, 2012


O cansaço é tão grande que chego a ter vontade de chorar, pensei em reler um velho livro, busco na prateleira alguma inspiração pra continuar, as pessoas nos magoam, nos abandonam, seguem suas vidas sem nos fazer falta, os livros são os mesmo de cinco anos atras, a leitura hoje talvez mais rapida e menos sentimental tire aquele ar de intimidade que tinha com o autor.
Comecei o mesmo livro que li da primeira vez em que notei a falta de sentido, sei o final, não gosto de como o lirico se torna humano e se perde no cotidiano do meu personagem favorito. Voce acha possivel que autores diferentes escrevam com nomes distintos uma historia diferente para o mesmo personagem?
Pois agora acabo de descobrir que desde sempre na minha imaginação o Vasco da trilogia Clarissa do Erico Verissimo é o mesmo Santiago Nasar de cronica de uma morte anunciada do Gabo e eu sou apaixonada por ele, a angustia da leitura me toma novamente, uma vontade de não ser daqui, a certeza de estar vivendo em 1930, de ter sido roubada de um conto policial latino americano, a certeza de não pertecer ao mundo que eu vivo, vou fugir desse mundo por uns dias.


Frescor agradecido de capim molhado como alguém que chorou e depois sentiu uma grande, uma quase envergonhada alegria, por ter a vida continuando…

julho 06, 2012


Você já viveu uma vida paralela a dos amigos, você consegue perceber como se agitam, que falam sem parar, mas você está tão imersa em seus próprios pensamento que não consegue fazer conexão com o que dizem. Estou flutuando sobre eles, como numa experiência de pós morte sinto como se não estivessemos na mesma dimensão.
A vida é um grande faz de conta, que acaba sem sentido, as historias foram criadas para que não enlouquecêssemos diante dessa realidade coatica, para que acreditássemos que o final é sempre razoável e lógico, mas não é verdade, porque a gente morre, e morrer é a coisa mais ilogica que existe e mais certa até hoje.
Deve ser um momento estranho o da morte, por que a vida é sempre a representação do passado e a idealização do futuro, a morte é a ruptura com essa realidade, a morte banaliza o passado, porque por mais glorioso que este seja, ele só servirá para historia, a morte destroi o futuro por questões óbvias, então torna o presente a única coisa que nos resta, e não resta nem medo, nem duvida, só um desconforto, como se tivéssemos sido enganados por muito tempo, literalmente por um vida inteira. Mas deve passar depois, as pessoas sofrerão por uns dias, mas vão se acostumar, o estranho e pensar nisso agora, enquanto a vida dos outros acontece sem questionamentos, com os problemas comuns do dia a dia, flutuar sobre eles com a impressão de que não entenderiam quando lhes contasse, com uma falta de interesse misturada com o desespero por não conseguirem perceber que você já se foi.


Só há uma liberdade, fazer as contas com a morte. Depois disso, tudo é possível. Não posso forçar-te a crer em Deus. Crer em Deus é aceitar a morte. Quando tiveres aceitado a morte, o problema de Deus ficará resolvido por si - e não o inverso.

julho 04, 2012


Na verdade você sempre foi uma imagem. A imagem que eu criei a partir de um conjunto de desejos, desejos não realizados, falhas pequenas. Então você se juntou a minha insônia.

julho 03, 2012


Não há o que fazer afinal, depois de um tempo voce percebe que fez o que podia, que é tão descartavel quanto qualquer coisa , o que realmente faz quem voce é são as impressões que a vida te deixou.
Se não estivesse com tanto medo talvez pudesse pensar melhor nas coisas que aconteceram ate agora, mas não posso, olho pra trás e só consigo enxergar um monte de coisa que deixei de fazer, não dava tempo, mas também não faria diferente se tivesse oportunidade, segui minha natureza, fiz escolhas que soubesse o resultado não teria feito, mas segui meu coração.
As impressões que a vida deixa não sei para onde vão quando a gente se vai, as pessoas me doem tanto as vezes, tem dias que não quero ver mais nada, me sufoca a dor alheia, não sei lidar com o que é externo, e um dia tudo acaba, me pergunto se isso fica, tem gente que tem tanto amor que é uma pena virar nada no final, mas ate que se prove o contrario é o que acontece com nossa vida, ela um dia simplesmente de uma hora pra outra deixa de ser.
Se eu descobrisse hoje que não teria amanha eu não me arrependeria de tudo que fiz, agi conforme minhas possibilidades, amei mais do que pude, senti a vida a flor da pele, maravilhei-me com cada coisa nova, tentei dar certo em tudo que fiz, mas aprendi que a vida é montanha russa, hora em cima, hora embaixo, quando tem companhia pode ser até bem divertida, o que eu sei é que agora estou de cabeça pra baixo num looping infinito, não reconhecendo nada como meu.



Porque um dia a gente descobre que apesar de vivermos quase um século, esse tempo todo não é suficiente para realizarmos todos os nossos sonhos nem para dizer tudo o que tem que ser dito. O jeito é: ou nos conformamos com a falta de alguma coisa na vida ou lutamos para realizar todas as nossas loucuras. Quem não compreende um olhar tampouco entenderá uma longa explicação.