Me visitam

junho 05, 2011


Eu, que sem nem ao menos ter me percorrido toda, já escolhi amar o meu contrário, e ao meu contrário quero chamar de Deus. Eu, que jamais me habituarei a mim, estava querendo que o mundo não me escandalizasse. Porque eu, que de mim só consegui foi me submeter a mim mesma, pois sou tão mais inexorável do que eu, eu estava querendo me compensar de mim mesma com uma terra menos violenta que eu. Porque enquanto eu amar a um Deus só porque não me quero, serei um dado marcado, e o jogo de minha vida maior não se fará. Enquanto eu inventar Deus, Ele não existe.





Já não sei se posso mesmo falar a respeito disso, nem sei se quero, talvez eu precise algum dia, para que não corroa tanto a vida como já tem consumido até aqui. Como é se sentir só na maioria das vezes? Como é brigar sozinho por algo impossível a qualquer um?
Ninguém quer viver meu jogo, ninguém quer participar dessa minha tentativa de dar certo o tempo inteiro, penso que devo mesmo seguir, penso que pode ser que o caminho fique escuro e que a solidão atormente, penso que não fui eu quem escolheu isso e que não posso me culpar por mais uma coisa desse tipo.
Eu não sei ainda por onde começar, nem sei se quero começar mais uma vez, na mesma tentativa sem sucesso, de que todos respeitem e interpretem os roteiros que escrevi pra cada um, temo que ninguém sinta minha falta, e que percebam bem no fundo que o melhor mesmo é que eu tenha ido, mas não posso mais voltar, não desta vez, tenho de aprender a lição de viver por mim, de viver minha vida como me foi implorado ontem. E o que tenho esperado eu, para viver essa vida, quando fico o tempo todo vivendo as dos outros?
Eu ainda não sei bem como é não ter com quem contar, mas eu percebo que nunca tive, que as escolhas que foram feitas na vida da pessoas sempre me excluíram e nunca tive alguma participação importante, percebo agora com toda a magoa que posso ter, que estive só o tempo todo, levando em cima de mim um peso que não merecia, preocupada e carregada, quando deixo cair esse peso e me sinto leve os olhares para mim são de desaprovação, sem utilidade não tenho mais valor.
Que o abandono seja superado de alguma forma, que crie uma compensação saudável, que não demore a curar essa ferida aberta desde os 5 nos de idade, que tudo que passou me transforme exatamente no que sou, porque acima de tudo não me envergonho de nada que possa ter feito em nome do que eu realmente desejava, o pior da minha vida e escolher errado os personagens que farão minha história.
O que na verdade eu sinto é medo do que pode vir, da liberdade que posso ter agora, da falta de responsabilidades, da justificativa para sentir ódio, do que mais tenho medo é de que me acostume, porque no fundo ninguém quer superar, quer mesmo é que a situação se resolva de uma forma rápida e que hajam perdões e distribuição de abraços e muitos vamos voltar e tudo será como antes, nada será como antes, e se chegar a ser vou ter que lembrar que o antes era o terrível inferno habitado por seres unidos na sua individualidade.

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