…Não: o que tenho é sono.
O que? Tanto cansaço por causa das responsabilidades,
Tanta amargura por causa de talvez não ser célebre,
Tanto desenvolvimento de opiniões sobre a imortalidade…
O que tenho é sono, meu velho, sono…
Deixem-me pelo menos ter sono; quem sabe que mais terei?
Álvaro de Campos
A bengala, as moedas, o chaveiro,
A dócil fechadura, as tardias
Notas que não lerão os poucos dias
Que me restam, os naipes e o tabuleiro.
Um livro e em suas páginas a seca
Violeta, monumento de uma tarde
Sem dúvida inesquecível e já esquecida,
O rubro espelho ocidental em que arde
Uma ilusória aurora. Quantas coisas,
Limas, umbrais, atlas, taças, cravos,
Nos servem como tácitos escravos,
Cegas e estranhamente sigilosas!
Durarão para além de nosso esquecimento;
Nunca saberão que nos fomos num momento.
Jorge Luis Borges
Jorge Luis Borges
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