Me visitam

março 16, 2012


- Entao, agora tem tudo de que necessita?
- Não, Hermínia, não é bem assim. Tenho algo maravilhoso e encantador, uma grande alegria, um adorável consolo. Sou realmente feliz…
- Então, que quer mais?
- Quero mais. Não estou satisfeito em ser feliz, não fui criado para iso, não é este o meu destino. Meu destino é exatamente o contrário.
- Ser infeliz? Mas isso você era antes, quando não queria voltar para casa com medo da navalha.
- Não, Hermínia, é algo mais. Àquela época, concordo, eu era muito infeliz. Mas tratava-se de uma infelicidade idiota que não conduzia a nada.
- Por quê?
- Porque eu não devia sentir medo da morte se ao mesmo tempo a desejava. A infelicidade de que necessito e por que anseio é diferente: é uma infelicidade que me permitiria sofrer com ânsia e morrer com prazer. Essa é a infelicidade, ou felicidade, por que anseio.
- Compreendo. Nisso somos iguais. Mas que tem contra a felicidade que encontrou agora, com Maria? Por que não está contente?
- Não tenho nada contra essa felicidade. Oh, não! Gosto de Maria. Estou satisfeito com ela. É maravilhosa como um dia de sol em meio à um verão chuvoso. Mas sinto que isso não pode durar. Além do mais, trata-se de uma felicidade infrutífera. Dá satisfação, mas a satisfação não é alimento para mim. Faz adormecer o lobo da estepe, torna-o dócil. Mas não é uma felicidade pela qual se possa morrer.
- Mas é preciso morrer por alguma coisa, Lobo da Estepe?
- Creio que sim! Minha felicidade enche-me de contentamento e posso suportá-la ainda por algum tempo. Mas quando a felicidade me permite um pouco de reflexão, aí meu desejo não é de mantê-la para sempre, mas antes voltar a sofrer, só que de maneira mais bela e menos lamentável do que antes. Anseio por uma dor que me prepare e me faça desejar a morte…
O Lobo da Estepe.

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