Me visitam

abril 01, 2012

Eu não acredito na musica quando ela diz que mudaram as estações e nada mudou, essa troca de ambiente e clima que acontece principalmente na virada de verão para outono, duas estações tão distintas em sensações e térmicas e sensibilidade, não existe nada parecido na vida, o outono me enche de nostalgia, é como se ele entrasse tão repentinamente e fosse derrubando todas as certezas que o verão plantou, o outono me prova que eu sinto, que eu sinto o tempo todo, que eu percebo a diferente angulação do por do sol, o tom das nuvens, o vento vindo de outros lugares.
É difícil sentir saudade no verão, tem sempre muita gente na rua, muita coisa pra fazer, muito o que suar, é difícil ficar indiferente ao calor, ao tempo passando rápido demais, a vida gritando, quando chega o outono as coisas mudam, você acaba percebendo que as pessoas foram embora, que a vida de alguma forma te levou pra longe, que rua não é mais a mesma, que você esta diferente, que os dias são muito parecidos com um passado vazio de pessoas.
Não é ruim, quem sabe eu possa voltar a te amar, talvez eu pare de correr e mande uma carta só porque é outono, quem sabe eu ouça uma musica no ônibus e perceba a besteira que fiz nesses últimos cinco anos, ainda posso contabilizar minhas perdas, tanta gente boa se foi pra sempre, também  ficou coisa  pra depois, todos esses passos dados na direção oposta, nem sempre nos levaram a diante. As estações mudaram e tudo mudou, de repente já nem sei mais quem eu era antes.



Em ti, por exemplo, o outono é manifesto e exclusivo. Acho-te bem outonal, meu filho, e teu trabalho é exatamente o que os autores chamam de outonada: são frutos colhidos numa hora da vida que já não é clara, mas ainda não se dilui em treva. Repara que o outono é mais estação da alma que da natureza.- Não me entristeças.- Não, querido, sou tua árvore-da-guarda e simbolizo teu outono pessoal. Quero apenas que te outonizes com paciência e doçura. O dardo de luz fere menos, a chuva dá às frutas seu definitivo sabor. As folhas caem, é certo, e os cabelos também, mas há alguma coisa de gracioso em tudo isso: parábolas, ritmos, tons suaves... Outoniza-te com dignidade, meu velho.»

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