Me visitam
maio 08, 2012
Ruína
Um monge descabelado me disse no caminho: “Eu queria construir uma
ruína. Embora eu saiba que ruína é uma desconstrução. Minha ideia era de
fazer alguma coisa ao jeito de tapera. Alguma coisa que servisse para
abrigar o abandono, como as taperas abrigam. Porque o abandono pode não
ser apenas de um homem debaixo da ponte, mas pode ser também de um gato
no beco ou de uma criança presa num cubículo. O abandono pode ser também
de uma expressão que tenha entrado para o arcaico ou mesmo de uma
palavra. Uma palavra que esteja sem ninguém dentro. (O olho do monge
estava perto de ser um canto.) Continuou: digamos a palavra AMOR. A
palavra amor está quase vazia. Não tem gente dentro dela. Queria
construir uma ruína para a palavra amor. Talvez ela renascesse das
ruínas, como o lírio pode nascer de um monturo”. E o monge se calou
descabelado.
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