Me visitam

maio 19, 2014

Teu endereço mudou.

Voltar a escrever não é uma tarefa fácil, se é que algum dia o fiz de verdade, o problema maior é o encontro que é necessário para que haja escrita, pensamento, catarse, voltar a escrever é admitir que se está afundando, recorrer ao ultimo recurso que me sobra, ver de fora o que acontece por dentro, desconstruir essa realidade virtual de dor.Um ato esquizofrênico de amor ao vazio, que se perde na verdade de possíveis  amores que aqui vagueiam, uma tentativa de que alguém me encontre quando me acho perdida, uma vaidade.
Voltar a escrever e saber que você já não sabe tudo, que o encontro contigo é insuficiente ou assusta, não quero, não posso, não devo. Por que?
Porque você não existe, não é senão uma representação de cura, quando não há doença, a  ação do verbo, onde não é mais necessário o uso de palavras, se te toco viras ouro, essa  relação não existe no real, no imaginário ela não é permitida, a sua virtualidade a desloca do presente, confere a ela um não pertencimento, uma desterritorialização que esvazia seu significado.
Voltar a escrever é te tirar da posição de ouvinte, é uma tentativa torpe e enviesada de te materializar, é dizer que tua falha salva meu desejo, mas você não falha. Voltar a escrever é me tirar de você e me entregar inteiramente a mim, é domar a situação que criei para alimentar a ilusão de que ainda há algum controle, no meu destempero você abre caminho para o saber de quem sou, na tua insistência só consigo ouvir não.



“Para Lacan, quer o sujeito desejante se aproxime de seu objeto de desejo ou fuja dele, esse objeto parece permanecer à mesma distância dele. Quem não se lembra da situação pesadelar em sonhos: quanto mais corro, mais fico plantado no mesmo lugar?

maio 08, 2014

Querido amigo, Se não tenho falado com quase ninguém, isto não é um “silêncio arrogante” mas, ao contrário, um silêncio bastante humilde, de um sofredor envergonhado em revelar o quanto sofre. Um animal rasteja para seu esconderijo quando está doente, e assim também faz la bête philosophe. Quão raramente uma voz amiga chega até mim! Estou agora só, absurdamente só. E no curso de minha guerra subversiva contra todo o homem que até agora tem sido respeitado e amado, eu mesmo me tornei sem perceber uma espécie de esconderijo, algo oculto, que você não poderá mais achar mesmo se for até lá procurá-lo, mas é claro que ninguém o faz. Confidencio que não é impossível que eu seja o principal filósofo desta era, e mesmo um pouco mais que isso, algo decisivo e fatal permanecendo entre dois milênios. Alguém nesta singular posição é constantemente obrigado a pagar com uma crescente, ainda mais glacial e aguda solidão. Nossos amados alemães! Não obstante eu esteja agora em meu quadragésimo quinto ano e tenha publicado cerca de quinze livros, eles não apresentaram nem ao menos uma crítica minimamente decente de meus livros. Recorrem agora a expressões como “excêntrico”, “patológico”, “mentalmente perturbado”. E por anos nenhuma palavra de conforto, nem um pingo de sentimento humano, nem um alento de amor.