Não vai sair no jornal, mas hoje uma amiguinha de longa data de se foi, ela vinha me encontrar na rua todos dias, ela sacudia o rabico e seu sorriso desdentando denunciava a alegria de ver um rosto conhecido entre tantos que atravessavam aquela rua.
Não vai sair no jornal que a vira-latas amarelinha, que vivia com outros cães em uma casa sem muros, resolveu passear pela rua vazia no meio de um jogo do Brasil na Copa do mundo e uma criatura indecente, com pressa em ver gols sem sentido, tirou sua vida e foi embora em alta velocidade sem remorso ou curiosidade em saber como ficou o bichinho contente que procurava comida em alguma lixeira vizinha.
Entre o choro do fake do neymar e um gol ou outro desse time que não representa mais ninguém não vai sair no jornal o amor que a Biga sentia e demonstrava todo dia ao acompanhar as crianças da casa ao lado até o colégio onde elas estudavam, não vai sair no jornal que a biga respeitava as portas de estabelecimentos e esperava pacientemente sua mamãe pagar os boletos na lotérica da esquina, não vai sair no jornal que Biga esperava o ônibus no mesmo ponto que eu todos os dias.
Os rojões e as vuvuzelas festejavam um vitória sofrida enquanto Biga se despedia e nós não pudemos dizer adeus, espero que não tenha doido, espero que Biga tenha sido feliz, acredito que foi, ela nunca refletiu sobre brutalidade e estupidez do mundo, ela sorria e balançava o rabo, ela reconhecia os vizinhos, amava suas crianças, adorava biscoitos que não podia mastigar.
O amor de Biga não vai sair no jornal, a vida e a morte de Biga não vão ser noticia essa noite, tenho certeza que a ela não sente nenhum sofrimento agora, mas nós amigos, nós estamos a merce de nossas dores, nossas perdas, em mim Biga ecoa.
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