Há barcos para muitos portos, mas nenhum para a vida não doer, nem há desembarque onde se esqueça. Tudo isto aconteceu há muito tempo, mas a minha mágoa é mais antiga.
Eu só queria morrer um pouquinho, não essa morte dramática, cênica e que todos vem ver pra se sentir melhor e ainda vivos, morrer por um dia dois, depois voltar e perceber o bem que é a vida, morrer e descansar,viajar no inconsciente e perceber que dentro de mim ainda há respostas que fundamentam a existência e a permanência nesse caos que se tornou o mundo desde que aqui cheguei.
Morrer simbolicamente, não dolorosamente, morrer pra essa realidade que não favorece a ninguém, porque a balburdia esta armada, e ainda que pense não encaixo naquilo que visto como meu.
Morrer é minha metáfora, minha razão, pra estar vivo é preciso que a morte não doa, não pese, não assuste, que a vida faça algum sentido, seja de alguma forma o grande significado, que o investimento seja são, sem ter que contar nos dedos o prazeres que ainda me são escassos, os desejos que me são impossíveis, os laços que não nunca se prendem.
Morrer pra esse padrão, pra essa verdade absoluta que me faz tão in, pra esse caminhar pra frente, sem toque, tem gesto, morrer pra essa morte que chega lentamente e certeira e espera outra morte real, sem ameaças e sem pedido de atenção, morrer um pouquinho pra caminhar dentro de mim e descobrir ai meu lugar seguro.
Matar o que eu sou e ser um novo, assimilando minha dor, fazendo útil a angustiante espera, tornar a angustia a propulsora do prazer, do movimento, da mudança, da produtividade. Matar as escolhas que fiz e ditaram quem eu seria, matar o eu que não quer mais ser, ser e não ser na ambivalência predominante de todo ser, matar o certo, o pensar, o ruminante pensar que se apodera do que sou e toma todas as possibilidade de agir, matar e matar porque a morte é a única porta que leva á algum lugar, criar e recriar, inventar um tempo que não passe cronologicamente e que pare no que for mais importante do que a própria vida.