Me visitam

março 23, 2018

Carolina

Oi, Natália.

Me disseram que terá um chá para sua conexão com o sagrado feminino e para harmonizar a chegada da sua Carolina nesse mundo caótico em que vivemos.Por causa disso fiquei pensando a semana toda que palavras poderiam ser ditas a ti e a essa menininha que todos aguardamos muito ansiosos e emocionados.
Carolina chega em nossas vidas em momento tão conturbado que  em um primeiro momento você deve ter congelado com a ideia, entre retrocesso e violências o mundo que acolhe sua filha é um convite para a luta,  mas conte a Carol que esse é um ótimo jeito de chegar aqui, diga também que, apesar de todas as coisas que estão em desacordo, ganha corpo (como quem sabe nunca tenha ocorrido) diversos movimentos de mulheres apoiando outras mulheres, mulheres que estão de punho em riste  prontas para qualquer embate, mulheres que não estão mais dispostas ao recato e ao lar. Carolina passara pelo caminho que está sendo aberto por essas mulheres, ele é duro mas será bonito.
 Então quando resolvi  escrever algo para vocês antes eu fui dar uma olhada no que representava o nome Carolina, e  entres tantos significados eu descobri que ele quer dizer MULHER DO POVO, olha só, que maravilhoso significado para um nome.
 Carolina é uma musica de Chico, Carolina Carol Bela é uma musica de Jorge Ben, Carolina é o nome de filme, de estado, município é nome de uma escritora negra maravilhosa "Carolina Maria de Jesus" que eu espero que você apresente muito em breve para ela.
Carolina chega como uma grande alegria para todos nós, mas não  consigo imaginar como deve ser teu estado de encantamento com essa chegada, Nati, que seu encontro com sua filha seja lindo, delicado e cheio de amor. Que vocês se reconheçam logo de cara e tudo flua naturalmente como deve ser. Daqui eu mando todo meu sentimento de paz, de carinho e todo meu amor por vocês, mando meu desejo de que ela chegue saudável, que ocorra tudo bem no parto e de que ela traga muita felicidade para todos a sua volta.
Com todo meu Amor.

Liana

março 05, 2018





Lembro que na escola, na quinta serie do ginásio, estávamos ensaiando uma roda de capoeira para uma apresentação do dia do folclore, as palmas deviam ser ritmadas de acordo com o som do berimbau, crianças de dez anos de idade que viviam em uma comunidade ucraniana de maioria branca e católica  não eram exatamente as mais performáticas representando a cultura afrobrasileira, mas até ai tudo bem, acontece que essas crianças resolveram rir e excluir aqueles que eles acreditavam estar destoando das batidas da apresentação, lá estava eu, com minhas mão emudecidas diante de risos e reclamações de atraso da conclusão do "espetáculo".
 A vida sempre foi assim, ninguém olha e diz: é você, todo mundo parece que tem que cavar fundo pra me dar um crédito, e acostumei a seguir no ritmo sem ouvidos dispostos a ouvir, nesse dia uma das  professoras percebeu minha que insistência estava correta, que eles deveriam seguir minhas mão para entrar no caminho, nesse dia eu não desisti e não desacreditei da minha cadencia da exclusão surgi como referencia. 
No entanto, os  dias seguem, e vejo mais e mais olhos de dúvida, olhos de desconfiança, e isso está muito mais relacionado como o mundo em que vivo do que com quem realmente eu sou, hoje já não tenho dez anos, não acho mais que é um equivoco auditivo quando não conseguem me escutar, acho muito mais que é puro silenciamento, e foi sempre assim de alguma forma, hoje eu já não consigo me esforçar todos os dias para acreditar na minha harmonia, porque não sei se tenho força pra continuar.
A vida é um eterna quinta série, infelizmente pra mim.